Marcola e Fernandinho Beira-Mar | Fotos: Divulgação |
Dois homens que conheceram a literatura depois de conhecerem o crime, em caso de um estado presente a literatura teria chegado primeiro aos defensores da ditadura. Informo que o Luiz Fernando nasceu 1967 e iniciou sua carreira no crime aos treze anos, em 1980 ainda no período obscuro do Brasil e o Marcos Camacho nasceu em 1968 e começou no crime aos nove anos, em 1977. Pra quem defende a ditadura, a ditadura é a criadora dos grandes problemas que vivemos hoje, a ditadura nunca foi útil ao país que ainda era invisível. Um país que tinha no samba a sua voz que sofreu tantas repressões, o país proibido de sonhar, um país forçado a se calar. A sociedade jamais pensou no efeito colateral, na década de oitenta uma voz surgia com a percepção muito aguçada sobre o vivemos hoje.
Essa voz era a de Darcy Ribeiro, que, via na educação um futuro justo. Darcy imaginou um mundo em que o filho do barão tivesse condições de igualdade com o filho do operário. Darcy sonhou e trabalhou demais, deu a vida por suas lindas causas. A reflexão desse texto é dizer que o país precisa dar ao favelado o direito de sonhar e uma das formas de sonhar é através da literatura, que abre um mundo de oportunidades.
O conhecimento é fundamental para a formação de um cidadão, como prova farei uma citação bíblica: "Meu povo foi destruído por falta de conhecimento". É preciso urgentemente entender que cada pessoa que tem o hábito de ler, precisa incentivar outras pessoas a lerem, principalmente sendo exemplo. Toda vez que saquei da bolsa um livro dentro de um ônibus, percebi olhares curiosos em busca do título do livro. A favela precisa ler, a favela precisa de livros, a favela precisa de ensino e consequentemente preparo para vida e pro mercado.
Desejo que num governo próximo as "Unidades Pacificadoras" se transformem em centros de ensino, nós queremos uma secretaria de segurança pública e não uma secretaria de confronto público. Culpar as favelas pela desordem é covarde e injusto, pois no momento que a situação era solúvel a sociedade preferiu se omitir, pois o crime ainda não batia em suas portas. Essa mesma sociedade que juntamente com estado se omitiu, agora teme o monstro que criou.
A favela quer oportunidades, tudo pode ser diferente daqui a vinte anos, o investimento em educação nunca será uma fala clichê enquanto ele não for uma realidade. Os dois favelados que não foram incentivados a ler na infância hoje são leitores da mais sofisticada literatura e se orgulham de serem leitores, no caso do Luiz Fernando, o menino que um dia foi um bebê, embora pareça que os "monstros" nunca foram crianças inocentes se transformou em escritor.
Em breve estará a venda o livro "Fernandinho Beira Mar:" Que fique a reflexão, vamos aumentar o campo de imaginação dos favelados, desejo para cada João Dória um Mujica, pra cada Michel Temer um Mandela. A balança precisa pesar pro lado da esperança, sou favela na alma e deixo aqui um beijo e um abraço pra cada morador do submundo.
Por Rafael Massoto, compositor, poeta e produtor cultural.
1 Comentários
Vale a pena ler o livro "Confissões", de Darcy Ribeiro. Lá ele fala do projeto dos CIEPs. Ele disse ao governador Brizola que, se sua ideia não fosse posta em prática, em dez anos ninguém seguraria a onda de violência e crimes no Rio. O abandono do projeto de Darcy mostra que ele estava certo.
ResponderExcluir