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Leandro Firmino, o Zé Pequeno | Foto: Divulgação |
Convivi com um cara muito honesto quando trabalhei na FASG e depois na Secretaria de Cultura, meu amigo até hoje, o grande Toninho, cinéfilo morador de Santa Catarina, que logo capturou a presença do Leandro Firmino em seu bairro, chegou na secretaria e nos anunciou essa novidade. Logicamente, como um amante da arte, fiquei muito feliz. Imaginei várias possibilidades pro Leandro Firmino contribuir com a cidade, porém só agora o poder público percebeu a importância de ter o Leandro compartilhando tudo de bom que aprendeu em sua caminhada. A equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social teve a sensibilidade de convidá-lo. Aí então o Leandro está exercendo a função de facilitador no serviço de Assistência Social, dando aulas de improvisação e interpretação nos CRAS e toda uma demanda reprimida de desejos deságua com muito amor em direção aos seus alunos.
Quando há amor há uma força que ultrapassa a generosidade. O Leandro chegou na cidade cheio de vontade de servir a São Gonçalo, lutou, se interessou e o momento chegou. Passado três anos da sua chegada à cidade, ele agora divide sua arte com amor, derramando afetividade genuína em seu trabalho, fala dos seus alunos com os olhos brilhando. Somos da equipe do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Algumas vezes, estivemos juntos nessa missão e perceber a recepção que ele recebe é de emocionar, pois trampar na Secretaria de Desenvolvimento Social é amar e servir: ultrapassa como um raio o limite da arte, embora se possa imaginar que arte não tenha limites, mas a arte é um grande veículo pra vida; a arte necessita da vida, então o que o Leandro tá podendo fazer é vida, é viver além do limite, é viver no sorriso do seu próximo, é enxergar versos sendo rabiscados na alma dos seus alunos, que participam das suas aulas com todo encanto de quem percebe sentimento pleno em cada palavra.
O lindo é perceber como as pessoas querem ser amigas do Leandro. Sabemos que o personagem Zé Pequeno marcou a história do cinema e, como diz o Mano Brown, quem admira quer uma proximidade, quer interagir e o Zé Pequeno instintivamente entende muita coisa, tem virtudes comuns à sua natureza; sendo um cara acolhedor, tem a inteligência que permite o outro amar, que é uma das melhores formas de saber amar; faz naturalmente em sua vida coisas que se encontram na filosofia; sempre diz que seu avô, que estudou pouco, era um cara de muita sabedoria e ele bebeu muito dessa sabedoria. O avô dele entendia o sistema de poder na complexidade que um doutor em Sociologia explicaria de forma rebuscada mas não diferente. Quando o Leandro chega aqui, cheio de vivência sem falar a insuportável linguagem acadêmica, sem a pretensão de mudar o mundo pra si, cheio de honestidade no olhar; quando fala da esposa e do filho, toda vez que atende o telefone e é a Letícia, sua esposa, a sua voz ganha uma ternura encantadora e, sem perceber, dá uma lição de vida pra quem ouve a conversa, tratando-a com toda doçura de um grande amante, como um Neruda inspirado.
Quando o poder público absorve em seus quadros um homem dessa sensibilidade, dando a chance de, via poder público, a cultura não se resumir ao centro da cidade; quando o poder público entra com sua face generosa no Porto do Rosa, no Engenho Pequeno, no Salgueiro, na Amendoeira, alguma coisa toca o meu coração. Quando o poder público chega no olhar do Leandro Firmino, com a dedicação de quem pensa que temos que salvar as crianças do Brasil e tem ações nessa direção, me ascende a esperança que a minha cidade pode descer do ônibus errado e procurar um lugar pra ir de forma consciente. Por isso, precisamos de mais Toninhos em São Gonçalo, gente que pulsa honestidade e enxerga no Leandro uma nova era pra cultura da cidade.
Por Rafael Massoto, compositor, poeta e produtor cultural.
Revisão: Prof. Edson Amaro.
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