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Foi realizada nessa segunda-feira (13), no plenário da Câmara de Vereadores de São Gonçalo a primeira audiência pública proposta pelo legislativo para discutir o tema “Violência Obstétrica”. A iniciativa foi do vereador Dr. Armando Marins em atenção a uma solicitação do Movimento de Mulheres de São Gonçalo.

O evento atraiu mais de cem pessoas entre autoridades, médicos e movimentos sociais. Logo na abertura o presidente da mesa, vereador Armando Marins falou da lei 667/2016 que protege as gestantes contra a violência obstétrica. Ele explicou que a motivação para a criação da   lei foram as experiências vividas dentro das maternidades quando ainda era acadêmico: “Há um descaso muito grande com a mulher na hora do parto e na condição de médico e vereador eu jamais poderia deixar de tocar em uma questão tão importante”, esclareceu Armando Marins.

A palestra que norteou os debates da audiência foi proferida pelo médico obstetra Philippe Godefroy. Ele enfatizou a importância da humanização do parto. Segundo o médico é necessário dar meios para que o parto seja humanizado. Para ele, o dano psicológico causado por qualquer tipo de violência na hora do parto, desde o momento do acolhimento até a hora do bebê nascer é irreversível. Godefroy evidenciou durante toda palestra que com o avanço da tecnologia a mulher perdeu a capacidade de decidir sobre seu próprio corpo e que o nascimento deixou de ser algo fisiológico para ser a um processo com muitas intervenções. Ele foi categórico ao afirmar: “As mulheres não querem tecnologia, elas querem respeito”, garantiu. Ele encerrou a preleção reforçando a ideia da necessidade de que o parto seja humanizado e respeitoso: “Humanizar é integrar a ciência ao afeto. Todos nascemos humanos, mas nos tornamos humanizados ao longo da vida”, salientou o obstetra.

O diretor da Maternidade Municipal de São Gonçalo, o médico Mauro Bustamante falou sobre as mudanças que vêm sendo feitas na maternidade a fim de melhorar o atendimento na hora do nascimento. Ele destacou o trabalho de educação continuada para capacitação dos profissionais, a transferência da maternidade para um prédio linear e a presença do acompanhante na hora do parto que subiu de 5% para 80%. Ele afirmou que o objetivo é chegar a 100 por cento.

Durante o debate muitas mulheres se emocionaram e levaram o público a emoção ao relatar suas experiências de violência na hora do parto. Um dos casos que chamou a atenção foi o da Roseli Constantino que seis anos após ter sido vítima de um sequestro e ter tido o cox fraturado, ela foi informada pelo médico que não poderia ter a filha através do parto normal por causa da fratura e durante o nascimento da filha sofreu vários tipos de violência desde as dores que teve que suportar porque a anestesia não fez feito até à ameaça de perder a bebê.

Já Natali Costa, representante do Coletivo Liberta falou da importância da audiência: “Dar visibilidade a um tema tão urgente.”Ela também destacou o trabalho das doulas mulheres que atuam no auxilio as gestantes) e pediu mais atenção das autoridades para o assunto.

A fundadora presidente do Movimento de Mulheres de São Gonçalo Marisa Chaves questionou as autoridades presentes sobre o cumprimento das leis que beneficiam as mulheres na hora do parto e cobrou mais ação do poder executivo. Outra representante da entidade, a diretora Fátima Cidades propôs a assinatura da carta de compromisso elaborada pelo Movimento de Mulheres, por todas as autoridades presentes. O documento exige o cumprimento da lei 667/17 no município de São Gonçalo e solicita audiências públicas para debater a violência obstétrica nas esferas estadual e federal. Após a leitura e aprovação da carta ela foi assinada e será encaminhada às autoridades.
Para o vereador e médico Armando Marins a audiência teve saldo positivo: “Esse foi apenas o começo. Espero que a partir daqui esta luta ganhe repercussão em todo o país e que as vozes muitas vezes silenciadas pela violência obstétrica ecoem mundo afora.  Parabéns a estas mulheres que fazem a diferença”, comemorou.