Foto mais recente da obra no Flamengo, de 2017 | Foto: Divulgação/Google Maps
O dinheiro que chega até a União Nacional dos Estudantes tem diversos destinos, nem sempre voltados para a educação. Dos R$ 55,9 milhões que a entidade recebeu nos últimos anos, a maior parte – R$ 44,6 milhões – veio do Ministério da Justiça, em duas ocasiões: R$ 30 milhões em 2010 e mais 14,6 milhões em 2013.

O dinheiro foi transferido para a entidade sob a alegação de ser uma indenização pelo incêndio de sua sede na Praia do Flamengo, ocorrido logo após o golpe de 1964. O valor repassado correspondia a 6 vezes o valor de mercado do terreno e tinha como destino a construção de uma nova sede, no lugar da sede histórica destruída pelos militares.

As obras, no entanto, demoraram para sair do papel e só começaram em 2012. Um ano depois, mais um repasse – dessa vez de R$ 14 milhões para acelerar a construção do prédio. Mas a UNE não quis gastar esse dinheiro: viu uma grande oportunidade de negócio sem colocar a mão no bolso.

O terreno, que está em nome da UNE desde 2007, fica numa região privilegiada do Rio de Janeiro, a poucos metros do metrô e de frente para a praia. É um lugar excepcional, do interesse de diversos investidores interessados em explorá-lo comercialmente por valores bem altos. E aqui, a UNE não pensou duas vezes. O capitalismo falou mais alto.

A entidade fez uma parceria com uma investidora, que prometeu bancar a obra para a organização, desde que ela cedesse algumas salas para exploração comercial. Negócio fechado.

A Torre do Flamengo, como será chamado o edifício, custará agora R$ 65 milhões, mas ninguém sabe ao certo quanto disso será bancado pelos 44 milhões de reais que a UNE possui em caixa. Acredita-se, até mesmo, que a organização não precisará colocar um centavo na obra.

O jornal O Estado de São Paulo, que revelou essas informações em maio, procurou contato com a UNE para entender como a organização está aplicando esses milhões que recebeu do governo, mas não obteve retorno. A resposta também não foi encontrada em seu site oficial, que carece de dados sobre prestações de contas.

Apesar de movimentar literalmente milhões de reais de dinheiro público, a UNE não oferece nenhuma transparência sobre seus gastos. Alguns links antigos sobre prestações de conta que existiam no site, encontram-se quebrados.

A WTorre, construtora contratada pela UNE para a obra, também levanta suspeitas: tem como clientes diversas estatais e ligações estranhas com o ex-ministro Antônio Palocci. Desde maio, a empreiteira está sendo investigada pela força-tarefa da Operação Lava Jato, por suspeitas de que tenha intermediado um esquema que desviou pelo menos R$ 2 milhões, sob o comando de Palocci.

Fonte/texto: https://spotniks.com/como-a-une-usa-o-seu-dinheiro-para-defender-o-governo/